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13.2.07

Passando o bastão adiante

(Publicado em 14.02.07)

Caros leitores,

Nem sei como começar, sempre fui péssimo em despedidas, até porque eu nem encaro desta vez como se fosse uma despedida. Prefiro dizer, aliás, que é uma mudança (totalmente voluntária) de rumos. É que, depois de sessenta e uma colunas (quer dizer, cinqüenta e sete, afinal eu coloquei um poema e três contos inéditos no meio disso tudo), acho que eu esgotei um pouco o que eu tinha a dizer sobre esse vastíssimo assunto que é a literatura.

As duas ou três coisas que eu acredito que saiba sobre ela, pelo visto, funcionaram bem mais do que eu esperava. Fiquei até bastante assustado quando percebi que este espaço era lido — e bastante lido. Pude constatar isso durante o II Seminário sobre o autor capixaba, ocasião em que encontrei muita gente interessante que me parava pelos corredores do IC2 para dizer que acompanhava, semanal ou esporadicamente, a coluna. Cheguei a ficar todo bobo quando um texto que eu escrevi aqui, com algumas impressões rápidas sobre Kitty aos 22, do Reinaldo Santos Neves, foi convidado pelo professor Wilberth Salgueiro para fazer parte de uma mesa-redonda sobre o livro. E quando eu recebi um e-mail dizendo que a Deny Gomes não só havia citado a coluna em sua fala durante o Seminário, mas que também era assídua leitora deste espaço, eu fiquei profundamente emocionado, embora um pouco preocupado com a responsabilidade de ser lido por gente tão importante como a Deny.

Durante pouco mais de um ano, vocês leitores puderam acompanhar uma série de discussões sobre o estatuto da literatura na “tão falada contemporaneidade”, desde a reconfiguração da atividade da leitura no corre-corre cotidiano até o exercício da escrita proporcionado pelos blogs e sites literários, ou ainda as comemorações pelos 400 anos do Dom Quixote. Pudemos acompanhar o lançamento de alguns títulos importantes no cenário capixaba, e resgatar alguns nomes (locais ou nacionais) que urgentemente precisam ser reeditados para as novas gerações de leitores. Vez por outra eu ainda encontrava espaço para falar de algum autor ou livro do meu rol de prediletos, quase sempre nomes não tão badalados (Boris Vian, Bioy Casares, Dino Buzatti, Juan Rulfo...), mas de importância incontestável na formação literária de muita gente boa por aí. Sobrava até tempo para fazer uma breve perseguiçãozinha à dublê de escritora Bruna Surfistinha (alguém ainda se lembra dela? Ah, esses hypes...) e aos escritores novos “badaladinhos” que insistem em copiar descaradamente Bukowski e todos os beatniks, como se isso fosse a última moda em Paris...

Poder compartilhar todos esses pontos de vista com vocês realmente me proporcionou um enorme prazer. Mas agora eu acho que devo passar o bastão a outra pessoa. Para trazer outros pontos de vista, e até mesmo discordar de tudo que eu escrevi antes, mas sempre colocando lenha na fogueira quando o assunto é literatura. Afinal, que graça teria se todo mundo pensasse igual?

A partir da semana que vem, quem assume a coluna de literatura é o escritor Carlos Calenti Trindade, dono de um texto sempre instigante. Duas semanas atrás, uma pequena amostra foi publicada neste espaço, enquanto eu estava de férias. Eu até então só conhecia alguns de seus textos ficcionais, muito bons por sinal, mas fiquei bastante empolgado com o artigo sobre o Vonnegut. Confesso que mal posso esperar para ler os artigos seguintes.

E aí vocês me perguntam: e você, Erly, vai para onde? Oras, eu continuo aqui. Só mudo o dia e o assunto. Toda terça-feira, vocês poderão conferir algumas impressões apressadas sobre outra de minhas grandes paixões: as artes visuais (artes plásticas, vídeo, performance e afins). A minha idéia é discutir um pouco sobre a produção local nessas áreas, a partir de textos dedicados a uma obra ou ao conjunto de trabalhos de um determinado artista. Digamos que é uma espécie de diário de bordo, rememorando alguns episódios que marcaram o circuito das artes visuais capixabas nos últimos oito ou dez anos, e acompanhando os próximos desdobramentos.

Como eu não sou artista plástico, o meu enfoque será baseado na minha experiência como espectador. Ok, um espectador privilegiado, porque eu pretendo trazer, em cada texto, o resultado de um questionamento junto ao artista sobre a experiência estética que essa obra proporciona. Sempre que possível, haverá uma entrevista ou um bate-papo com o autor, referente às obras sobre as quais escreverei. Espero que o resultado seja interessante. Afinal, eu lancei o desafio, o editor topou e agora eu vou ter que me virar para cumprir a expectativa. Pelo menos, vai ser um mergulho interessante nesse universo.

Pra quem quiser reler os textos publicados durante o tempo em que eu tomei conta deste pitoresco recanto, vale lembrar que o arquivo está publicado no blog http://estarsendotersido.blogspot.com. Tá tudinho lá, com direito a uma licença Creative Commons, que permite copiar à vontade, para uso não-comercial, desde que não se altere o conteúdo dos textos. Porque eu sou e sempre serei favorável a toda e qualquer flexibilização de direitos autorais. Copyleft, pra sempre.

Bom, é isso. Eu queria ter contado alguma longa estória que encantasse a todos, talvez seria uma forma interessante de encerrar esse capítulo da nossa pequena epopéia, mas como eu não sou Sherazade, eu prefiro recomendar a todos que continuem a ler, e ler muito, toda literatura boa que passar pelas mãos de vocês. Porque livro bom é aquele que causa aquele incômodo que a gente sabe muito bem o que é, aquela “pulga atrás da orelha” que nos transforma todo por dentro e que faz da gente pessoas cada vez mais interessadas e interessantes. Nada melhor que ouvir (e, vez por outra, contar) estórias, né?

É isso aí!


Comments:
Olá Erly gostaria de entrar em contato com vc para falar sobre o seu curta, Pour Elise, sou aluna de artes na ufes. Meu email é vanessartori@hotmail.com
Obrigada!
 
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